Planejamento para Infantil: Espiando por trás da cortina
Profª Suellen Balado
Pedagoga, Mestra em Didáticas
Doutoranda em Educação pela Universidade da Coruña
Considerações iniciais prévias ao planejamento para Educação Infantil
O jogo é uma atividade importante na vida das crianças. Através dele exploram o mundo e constroem conhecimento. O jogo livre é totalmente dirigido pelas crianças, contribui com aprendizado, autorregulação e motivação dos alunos. Porém, a participação dos adultos é fundamental para o desenvolvimento dos alunos, especialmente no que diz respeito à linguagem.
Apesar de não estar considerando exclusivamente uma sala de aula bilíngue, existe uma metodologia de ensino de inglês como segunda língua que é igualmente enriquecedora no ambiente de educação infantil, uma vez que um dos objetivos deste período, é a aquisição e desenvolvimento da linguagem. Por isso, the communicative approach (traduzido do inglês: Abordagem Comunicativa), de Widdowson (1990) e Savignon (1997), nos serve como grande ferramenta de ensino-aprendizagem, uma vez que ser capaz de se comunicar exige mais do que dominar uma estrutura lingüística. A linguagem é fundamentalmente social (Halliday, 1973), assim que, ser capaz de se comunicar exige mais do que competência linguística; exige competência comunicativa (Hymes, 1971), algo que os jogos e brincadeiras atendem perfeitamente, ainda mais se assistido por um adulto. Seu papel aí é mediar participativamente, brincar junto, não comandar a atividade, de maneira a modelar e expandir o vocabulário de seus alunos.
Durante o jogo, os adultos têm a possibilidade de modificar a linguagem das crianças usando estratégias básicas, como reprogramação* do discurso do aluno ou de palavras que ainda não pode usar corretamente, fazer perguntas e comentários que permitem aos alunos refletir sobre seus pensamentos expandindo conceitos e criando novas orações ao mesmo tempo que se sente seguro para expressar suas opiniões para um adulto.
Como vimos, os jogos, brincadeiras e atividades lúdicas são o fio condutor de um bom trabalho em educação infantil. A qualidade e estrutura dos mesmos é o que vai diferenciar o profissional competente do cuidador que brinca para passar o tempo. Não quero dizer com isso que as atividades escolares serão monótonas e desinteressantes. Todo o contrário, devem ser muito mais elaboradas e interconectadas de maneira a proporcionar um rendimento óptimo e aproveitar ao máximo o tempo para a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.
O que nos leva a pensar: que tipos de atividade devemos organizar?
A partir das sensações e percepções, os processos superiores de conhecimento, inteligência e linguagem são formados. A inteligência se desenvolve a partir de informações sensoriais e explorações motoras desde os primeiros meses. Por esse motivo, é conveniente estimular e exercitar os sentidos, a fim de melhorar o mundo cognitivo da criança.
Os órgãos sensoriais são responsáveis por coletar a estimulação que o ambiente nos envia e transmiti-la ao cérebro, que é onde essas informações são registradas e se tornam sensações. O ser humano está em contato e se relacionando com o meio ambiente através de sistemas sensoriais. Através dos receptores sensíveis, estamos recebendo informações e detectando estímulos (calor, frio, pressão, ruído etc.) presentes no ambiente.
A sensibilidade aparece, então, como uma capacidade que o organismo tem de "perceber" o meio ambiente como algo que existe e que possui várias qualidades. Para isso, temos receptores na pele, na retina, na língua e em todos os sentidos para coletar todas as informações.
A percepção é um processo incluído no processamento de informações e que nos permite organizar, interpretar e codificar dados sensoriais, a fim de conhecer o objeto. Perceber significa tomar consciência de que esse objeto existe, que tem consistência, qualidades etc.
Estamos cercados por estímulos e, graças à percepção, podemos organizá-los, interpretá-los e dar-lhes significado.
Por sensação, conhecemos as qualidades e características do objeto; pela percepção, a própria essência do objeto. Se não elaborássemos percepções, não saberíamos da existência de objetos, não poderíamos nomear coisas ou cores, etc. Nada seria definido ou diferenciado.
Assim sendo, considerando a educação infantil, as atividades que se mostram mais efetivas são aquelas com a qual o aluno tem a necessidade de interagir. Quando a criança precisa seguir um passo-a-passo** autonomamente a atividade se torna desafiadora e interessante. Da mesma forma que, ainda que não produza um produto final, possibilite a interação com o material, as crianças demonstram maior interesse e vontade de chegar ao final, seja ele o objetivo de um jogo ou completar uma obra de arte ou terminar a tarefa em uma folha de papel. Mas esta necessita possibilitar a manipulação e exploração da criança para produzir o efeito positivo e a aprendizagem.
Algo que não vejo funcionar, de maneira geral, são os ditos “livros didáticos” voltados para educação infantil. Não digo que todos sejam ruins, mas a sua funcionalidade em sala de aula é pobre.
Durante a minha trajetória, fiz algumas resenhas de livros didáticos de educação infantil. Como mãe, também acompanhei a passagem do meu filho por esse processo e o que pude perceber, de maneira geral, foi a incongruência de dados, tarefas e imagens encontrados nestes livro. Assim que, se essa é a sua realidade, uma saída que encontrei foi fazer com que o livro seguisse a minha pauta, como professora, e não o contrário. De maneira que o livro formasse uma complementação do que estivesse dando em classe. Se uma página possui um hipopótamo, deixamos para usá la quando estivermos estudando a Savana. A incorporação de fatores sensoriais à atividade previamente abstrata também funciona, utilizando o livro como um bloco de registros de uma atividade concreta e não como a atividade em si. O fato é que muitas vezes encontramos a imposição do livro didático, porém, cabe a nós transformar a situação em algo realmente proveitoso para nossos alunos.
Continuando, em relação à linguagem, em Educação Infantil consideramos que a criança ainda não lê nem escreve. Como muito, no último período deste segmento, estarão iniciando sua jornada no mundo da alfabetização. O que nos leva a refletir sobre como trabalhar com estas crianças que não podem completar fichas ou ler cartazes etc. o fato é que a capacidade de linguagem e comunicação vai muito além destas duas habilidades: ler e escrever. Na verdade, este é o resultado de um processo muito mais importante e complexo que simplesmente culmina na capacidade de agregar todo o conhecimento e habilidades adquiridos na capacidade de ler e escrever.
Considerando o anterior, podemos concordar que a Educação Infantil é uma etapa onde a instrução está baseada na leitura do ambiente e na interação oral, majoritariamente. Nesse sentido, tudo deve ser feito com uma intenção comunicativa.
*Reprogramar a oração/palavras dos alunos seria simplesmente repeti las como um eco, mas de maneira correta. Livre de julgamento ou sentido de repreensão. Literalmente como um eco, mas que modela a maneira correta de dizer algo que a priori era uma dificuldade. Ex. “um pato pa você e um pato pa mim.”, “Hum! Muito obrigada! Um prato pra você e um prato pra mim”. Ao mesmo tempo que corrige a oração da criança, está inserido no jogo, de maneira despercebida, está dando um feedback positivo e reprogramando cognitivamente tentativas posteriores. Costuma funcionar com crianças que não apresenta patologias ou dificuldades relacionadas ao desenvolvimento ou de fala, nestes casos, é positivo e válido orientar a visita a um profissional competente.
**O passo a passo pode ter entre três e cinco ações que devem estar representadas visualmente com pictogramas ou outros recursos, em um espaço à vista de todos. Ex. pintar, recortar, colar.